segunda-feira, 15 de junho de 2015

Meu testemunho: Parte 1

Eu vim de um lar destruído, assim como milhares de crianças que vemos hoje em dia. Meus pais ficaram casados por 15 anos mais até onde consigo me lembrar foram 15 anos só de brigas, gritaria e desentendimento entre eles.
Como todo filho, eu sofria vendo tudo aquilo e chorava muito... Sempre escutava uma voz em minha cabeça dizendo: "é tudo sua culpa"... "Quem mandou você nascer?"... "por que você não morre logo?".
Essas vozes eu escutava várias e várias vezes ao dia e por muitas vezes pedi a morte pra Deus, mesmo sendo apenas uma menina de 07 anos eu tentei o suicídio. 


PARTE 01: MINHA INFÂNCIA

Lembro de viver em uma casa linda, cercada de coisas boas ao lado das minhas duas irmãs e meus pais. Tínhamos uma vida financeira ótima, comíamos o que queríamos, vestíamos o melhor e sempre havia festas em minha casa... Meu pai na época trabalhava em uma Multi Nacional e ganhava muito bem, cercava eu e minhas irmãs de presentes caros. Ele sempre nos levava em uma loja de brinquedos e dizia que poderíamos escolher qualquer coisa que queríamos sem nem olhar o preço... Naquela época dinheiro não era o problema para ele. Não éramos ricos mais vivíamos muito bem financeiramente.
Quem olhasse para a nossa família veria uma família abençoada, minha mãe tinha tudo o que queria, meu pai ganhava bem, eu e minhas irmãs sempre bem arrumadas e com os brinquedos da moda... O que mais desejar? PAZ... Era isso o que eu desejava dia e noite.
Nem todo o luxo em que vivia e nem todo o dinheiro que meu pai tinha podia comprar essa paz. 


Meus pais sempre estavam brigando e até onde sei qualquer coisa era motivo pra isso. Eu era muito apegada ao meu pai e ver minha mãe gritando com ele e brigando me deixava triste e consequentemente com raiva dela. Como ainda era uma criança (07 pra 8 anos) culpava a minha mãe pela situação, afinal nem entendia nada do que estava se passando entre eles como casal. Quando minha mãe brigava com o meu pai sempre sobrava pra mim (que não tinha nada a ver com a história), ela brigava comigo também por qualquer coisa, tudo o que eu fazia a irritava, ela me xingava, me culpava pelas brigas deles era realmente um horror.
Mais antes que vocês pensem que minha mãe era um monstro rsrsrsrs entendam: tinha um motivo pelo qual ela agia daquela forma... Eu só vim entender anos mais tarde quando consegui enxergar a raiz do problema e entendê-la. 


Eu crescia em um lar cheio de brigas e ainda pra piorar minha irmã do meio vivia doente. Naquela época ela sofria de convulsão... Ela ficava bem o dia todo, brincando comigo e rindo mais quando nos deitávamos pra dormir ela tinha os ataques de convulsão. Nunca cheguei a ver porque minha mãe me polpava daquelas cenas tristes mais sei que minha irmã ficava horrível porque escutava minha mãe contando para os familiares. Sofria pela minha irmã, na verdade toda a família sofria por ela. 
Devido tantos problemas na minha casa eu crescia uma criança triste, cheia de complexos, amargurada, cheia de mágoas então eu pensava: "pra que viver? eu prefiro morrer quem sabe assim meu sofrimento passa de uma vez."
Foi ai que tentei o suicídio pela primeira vez. Uma manhã ao acordar mais cedo do que todos da minha casa, eu fui até a cozinha e peguei uma faca. Fiquei por um bom tempo olhando aquela faca, coloquei ela em meu peito como se fosse furar mais não tive coragem para aquilo. Então eu guardei a faca e pensei em fugir de casa, fiquei também um bom olhando para a porta da sala pensando que se fugisse de casa os problemas entre eles iam passar já que na minha cabeça eu era o problema e culpada de tudo. Mais também não tinha coragem de fugir de casa, ficava pensando no sofrimento dos meus pais me procurando.


Foi ai que tive a ideia de beber remédios. Como na minha casa tinha vários remédios essa seria uma boa ideia. Então entrei no banheiro e me tranquei lá dentro, abri o armário e peguei vários remédios; não me lembro mais o que bebi mais sei que foram vários remédios em gota e comprimidos que engoli. Feito isso fui me deitar pensando que se dormisse não sofreria (olha a mente de uma criança perturbada).
Passado algumas horas eu acordei e quando vi que não tinha morrido fiquei muito brava: nem pra isso eu servia, nem pra morrer eu servia.
Minha infância foi assim cercada de coisas boas (materialmente) mais também cercada de coisas tristes, brigas, desejo de morrer... Fui crescendo cada vez mais infeliz e cheia de complexos. Até o dia em que uma tia minha (irmã da minha mãe) convidou meus pais para irem até a igreja buscar ajuda em Deus.
Claro que eles aceitaram o convite então foi quando cheguei a igreja pela primeira vez. O Pastor orou pela minha família ao final do culto e naquele mesmo dia ele determinou a cura da minha irmã e realmente de lá pra cá ela nunca mais teve nenhum ataque.

Por mais que meus pais estivessem dentro da igreja, eles não obedeciam o que lhe era pregado... Na verdade eles queriam fazer as coisas a sua maneira e assim não tem como Deus nos abençoar; porque para ser abençoado temos que obedecer a Sua Palavra e ao Seu chamado.
Não demorou muito e acabamos perdendo tudo o que tínhamos. Meu pai entrou de sociedade em um mercadinho com um dos meus tios (cunhado do meu pai) e ele passou a perna no meu pai. Sim essa é a palavra certa para se dizer: ele passou a perna no meu pai ficando com tudo e nós acabamos nos enfiando em dívidas, dívidas e mais dívidas... Os agiotas iam em minha casa pegar as coisas de valor que tínhamos para assim saldar as dívidas do meu pai. Isso fazia com que as brigas entre eles só piorasse. Meus pais pensaram que se fossemos embora, se saíssemos da cidade e até mesmo do Estado nossa situação ia melhorar. 
Então eles venderam a nossa casa e foi ai que tudo piorou. Ao vender a casa já estava tudo certo de que íamos embora para a cidade de Mato Grosso onde morava um dos irmãos da minha mãe. Só que minha mãe desistiu dessa ideia em cima da hora, depois de já ter vendido a casa e muitos outros bens materiais. Nos vimos sem casa, sem nada, meu pai já tinha pedido demissão do emprego... e agora? O que íamos fazer? 


O jeito foi ir morar de favor na casa daquele meu tio, sabe? Aquele que passou a perna no meu pai... que humilhação... Ali fomos muito humilhados e envergonhados... Ficamos lá por pouco tempo mais o suficiente para nos envergonhar. Meu pai com o dinheiro que pegou da firma conseguiu arrumar uma outra casa pra nós, pra quem morava em uma bela casa, no centro da cidade; agora eu ia morar no meio da favela (nada contra a quem mora em favela)... Ou seja, mais humilhação e vergonha para nós.
Me lembro que em frente a minha casa tinha a casa de um dos traficantes do morro. Então enquanto ficava lá fora brincando com as minhas irmãs era obrigada a ver os traficantes com armas e drogas. Via o movimento de pessoas entrando e saindo da casa dele, na certa iam comprar drogas para uso próprio ou até mesmo para vender. Fui obrigada a ver esta cena diversas vezes; quando eu voltava da escola era obrigada a passar no meio dos traficantes. Ali eles estavam armados e drogados mais não tinha outro caminho para que eu pudesse voltar pra casa a não ser aquele ali. Tinha que abaixar a cabeça e passar no meio deles. Como o chefe do morro era "amigo" de infância da família da minha mãe, os traficantes sempre me respeitavam e não falavam nada quando eu passava. 
Não falavam quando ele (o chefe) estava no meio mais quando eu passava sozinha ou com alguma amiga de escola, eles sempre mexiam comigo e com elas.


Eu já estava entrando na pré adolescência nessa altura do campeonato tinha os meus 10 pra 11 anos, por ai. E como toda menina da minha idade já queria namorar rsrsrs (quanta bobeira). O que vou dizer agora pra vocês, eu nunca disse pra ninguém... meus pais não sabem disso acho que nem mesmo meu marido sabe disso. Eu comecei a gostar de um traficante do morro onde morava... Nunca "fiquei" com ele mais foi porque não tive oportunidade porque louca do jeito que eu era se ele tivesse pedindo pra "ficar" comigo na certa eu teria aceitado. Mais na época eu tinha medo dessas coisas e não contei pra ninguém, guardei esse segredo pra mim; somente pra mim e nunca tive coragem de contar pra alguém... Vocês estão sabendo de primeira mão rsrsrs.
Meu pai já estava trabalhando de novo em outra empresa mais as brigas entre ele e minha mãe não passaram... Eles continuaram brigando e cada dia mais e pior. Até o dia em que minha mãe decidiu se separar dele.
Meu pai saiu de casa e foi pra casa dos meus avós, meu sofrimento só aumentou com essa atitude deles e fora a mágoa e raiva que eu tinha da minha mãe que aumentou também. É estranho isso, eu amava a minha mãe mais ao mesmo tempo nutria dentro de mim uma mágoa e uma raiva dela sem explicação.
Meu pai ficou alguns dias fora de casa mais logo eles se "acertaram" e resolveram voltar. Foi quando eles decidiram que queriam ir embora de novo, trocar de cidade e de Estado. Fizeram igual da primeira vez, venderam a nossa casa, alguns de nossos móveis e bens materiais. Mais assim também como da primeira vez minha mãe desistiu dessa ideia e mais uma vez nos vimos sem casa e sem nada. O jeito foi comprar um barraco ali mesmo naquela favela e nos mudar pra lá. 


Me deparei morando na favela, em um barraco onde morava mais ratos do que gente. Ao lado do nosso barraco passava um esgoto, ou seja, a nossa situação só piorava cada vez mais. Nesse barraco não demorou muito pros meus pais se separarem outra vez mais dessa vez foi definitivo e não teria mais volta. Eu já estava com meus 12 pra 13 anos e conseguia entender mais o que estava acontecendo entre eles. Meu pai saiu de casa e eu me lembro exatamente daquele dia, da dor que senti, da raiva e ódio que senti da minha mãe. Eu a culpava por tudo aquilo, achava que ela não tinha que se separar do meu pai; afinal, ele sempre foi um bom pai pra mim e pras minhas irmãs. Mais eu não sabia como ele era como marido só vim entender anos mais tarde quando me casei.
Então meu pai saiu de casa, nos deixando em um barraco, no meio da favela e sem nada porque na época minha mãe nem emprego tinha. Quando ela se deparou com aquela situação não aguentou e caiu em depressão. Lembro que teve dias que ela não levantava da cama nem mesmo pra escovar os dentes e tomar banho, ficava o dia todo deitada só chorando. Eu como filha mais velha levava comida pra ela na cama e até dava comida na boca dela. Mesmo com toda dor e mágoa que eu carregava em meu peito, ainda tentava passar força pra minha mãe e falava várias coisas pra ela, palavras de ânimo.
Até que depois de alguns dias, minha tia arrumou emprego pra ela então assim minha mãe viu uma luz no fim do túnel.


Continua...


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